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Pesquisadores temem que outono chegue sem vacinas para idosos e pandemia piore

O ideal, na perspectiva do infectologista Unaí Tupinambás, seria proteger o mais rápido possível 90% dos grupos de risco da Covid-19

Pesquisadores temem que outono chegue sem vacinas para idosos e pandemia piore
Por: otempo.com.br
postado em 22 de janeiro de 2021

Ainda longe de apaziguar a quantidade crescente de óbitos e contaminações por Covid-19, as vacinas contra a doença chegaram ao Brasil causando uma mistura de esperança e desilusão em pesquisadores que acompanham a pandemia. Por um lado, as quase 11 milhões de doses da Coronavac que estão no país — e que são a única opção de fato presente em solo brasileiro — aliviam a pressão sobre os profissionais de saúde que são vacinados. Por outro, lembram que o Brasil precisa de cerca de 104 milhões de doses só para idosos, pessoas com comorbidades e outros grupos de maior risco. 

O Ministério da Saúde prometeu pelo menos 300 milhões de doses de vacinas ainda neste ano, porém não apresenta datas concretas para a chegada de todas elas. O temor de pesquisadores é que uma vacinação a conta-gotas não atinja um alto percentual de pessoas dos grupos prioritários até o outono, quando outras doenças sazonais costumam flagelar os mesmos grupos, e o país viva um primeiro semestre ainda mais duro do que o de 2020, já que iniciou o ano com alta de casos. 

Coronavac

Brasil começou imunizações com a Coronavac - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O infectologista Unaí Tupinambás, um dos membros do comitê de enfrentamento à pandemia montado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), pontua que a maior parte das mortes pela doença na capital, como no restante do Brasil, é de pessoas com mais de 60 anos ou que apresentam comorbidades — na capital mineira, por exemplo, 97,5% de óbitos foram de pessoas com esse perfil. “Se conseguíssemos vacinar a maioria dessa população antes do outono, o mais rápido possível, salvaríamos dezenas de milhares de vidas e a pandemia ficaria mais ou menos sob controle, a Covid-19 se transformaria em uma doença leve. O SUS ficaria protegido para atender a outras populações e esse seria o começo do fim da pandemia”, elabora. O ideal seria atingir 90% de cobertura dos grupos de maior risco durante o restante do verão, que termina no final de março. 

Tupinambás argumenta que, por mais que a Coronavac pareça não impedir as pessoas de contrair o vírus, ela os protege das formas graves da doença. Pensando que a população mais jovem e sem comorbidades já têm um risco menor de ser hospitalizada e morrer, vacinar os mais vulneráveis depressa seria a chave para começar a encarar a Covid-19 como uma doença um pouco menos preocupante. 

“Vacina não dá em árvore, tem que ser planejada. O que vou usar em 2022 já precisa ser comprado com acordos. Não vamos ter 30, 70, 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 agora, a produção deve se intensificar no segundo semestre deste ano. Isso significa que a população não pode se basear em vacinas para se proteger agora, tem que manter distanciamento social e usar máscara”, conclui José Cássio de Moraes, especialista em imunização e membro do Observatório Covid-19 BR. 

Se quem mais precisa ser vacinado passar o outono afora sem imunização, a pandemia pode ser agravada pelos surtos de gripe que são comuns nessa época do ano e que também levam idosos a ser hospitalizados, destaca Unaí Tupinambás. O Ministério da Saúde diz que já existem 80 milhões de doses de vacina contra o Influenza adquiridas para a campanha deste ano, programada para se iniciar em abril, e que Estados e municípios já possuem seringas e agulhas para as aplicações.