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Construção da ferrovia entre Araçuaí-Caravelas tem aprovação da ANTT

Autorização para celebração de contrato de adesão foi publicada no Diário Oficial

Construção da ferrovia entre Araçuaí-Caravelas tem aprovação da ANTT
Por: Gazeta de Araçuaí
postado em 08 de fevereiro de 2023

Os Vales do Jequitinhonha e Mucuri, poderão receber investimentos para a reativação da linha ferroviária Bahia-Minas destinada ao transporte de cargas e turismo. A antiga estrada foi desativada em 1966.

Na terça-feira (07/02) o Diário Oficial da União, publicou deliberação da  diretoria colegiada  da Agência Nacional de Transportes Terrestres(ANTT),  aprovando a celebração de Contrato de Adesão, para conceder, por meio de autorização, a construção e exploração de uma estrada de ferro localizada entre Caravelas (BA) e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), pelo prazo de 98 (noventa e oito) anos. A medida é objeto do requerimento da empresa Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária SPE Ltda.

A deliberação foi assinada por Rafael Vitale Rodrigues, diretor-geral da ANTT. 

Caso se torne realidade, os investimentos poderão beneficiar os seguintes municípios: Araçuaí, Novo Cruzeiro, Teófilo Otoni, Carlos Chagas, Nanuque, Serra dos Aimorés em Minas Gerais e Argolo, Posto da Mata - distritos de Nova Viçosa, Teixeira de Freitas e Caravelas, na Bahia.

"A celebração do contrato de adesão é o nosso ponto de partida. Temos o prazo de 30 dias para assinar este contrato com o Ministério de Infraestrutura Brasileira de Transportes. A partir daí, podemos iniciar os projetos de engenharia e de licenciamento ambiental pertinentes à construção da ferrovia"- informou Fernando Cabral, diretor da Multimodal Caravelas S.A, prevendo que esta etapa deverá durar em torno de 2 anos.

A ferrovia será construída seguindo o antigo leito da Bahia-Minas, totalizando 491 km de Araçuaí a Caravelas, com investimentos estimados em R$ 12 bilhões.

AUDIÊNCIA EM NANUQUE

Em junho de 2022, ocorreu na cidade de Nanuque, uma audiência Pública, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais – ALMG, requerida pelo então deputado estadual, Carlos Pimenta (PDT), para debater o retorno da ferrovia.

Construção da ferrovia entre Araçuaí-Caravelas tem aprovação da ANTT

Comissão Pró-Ferrovias, da ALMG, debateu, no Nordeste do Estado, o projeto de reativação da estrada de ferro Bahia-Minas Foto: Guilherme Dardanhan

“Mudamos a Constituição para trazer de volta esse transporte. E vimos que é possível. Temos um novo eixo ferroviário em Conceição do Mato Dentro, já está bem adiantado. Não dá mais para falar de desenvolvimento com essas estradas que temos. O transporte ferroviário é a única alternativa para transportarmos nossa riqueza e nossa população”, destacou Carlos Pimenta, no dia da reunião.

Projeto da Petrocity também prevê construção de ferrovia no Vale

Em outubro do ano passado, o Governo de Minas assinou protocolo de intenções com a Petrocity Ferrovias para que o grupo invista R$ 16,8 bilhões no estado, voltados à construção de três ferrovias que passam por Minas, em um total de 2.068 quilômetros de extensão. Os trechos vão ligar Goiás e o Distrito Federal ao porto da empresa, que será construído na cidade de São Mateus (ES).

O complexo ferroviário deverá se tornar um dos mais importantes ramais logísticos do país para importação e exportação de produtos.  

Ao todo serão três trechos percorrendo 62 cidades, 40 delas em Minas Gerais. O principal ramal será a Estrada de Ferro Juscelino Kubitschek (EFJK), que vai ligar Brasília a São Mateus, passando por Montes Claros, com 1.310 quilômetros de extensão. Esse trecho irá permitir o transporte por regiões não atendidas atualmente pelo modal ferroviário e que possuem baixos indicadores de desenvolvimento, como as regiões dos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce. 

O projeto possibilitará o escoamento da produção de blocos de rochas ornamentais(granito) produzidas nessa região, atualmente feito por carretas, o que diminuirá os custos de transporte além de desafogar as estradas locais. Vale também destacar a proximidade com a região com depósitos de lítio no entorno de Araçuaí, o vale do lítio brasileiro e do Vale das Cancelas, onde foi descoberta uma grande mina de minério de ferro, atingindo os municípios de Salinas, Josenópolis, Fruta de Leite e Padre Carvalho e Grão Mogol. De acordo com o Estado, a empresa responsável, cujo capital é chinês, pretende viabilizar a extração e transformação de minério de ferro de baixo teor em um produto de alta qualidade para o mercado, que será escoado para o município de Ilhéus, na Bahia.

Construção da ferrovia entre Araçuaí-Caravelas tem aprovação da ANTT

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, ressalta a importância do investimento na expansão de novas ferrovias “o que amplia o escoamento das nossas riquezas diversas. Esse investimento em três novas ferrovias possibilita, ainda mais, a atração de novos investimentos para o estado, além da criação de novas oportunidades de trabalho para os mineiros"- disse o secretário. 

Os outros dois trechos serão a Estrada de Ferro Vitória Minas (EFMES), de Barra de São Francisco (ES) a Ipatinga (MG), com 243 quilômetros de extensão; e a Estrada de Ferro Planalto Central (EFPC), de Unaí (MG) a Mara Rosa (GO), com 422 quilômetros de extensão.

Um pouco da história da Baiminas

A Baiminas, como moradores se referem à linha, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966. Seus 578 quilômetros ligaram o Jequitinhonha ao Atlântico, de Araçuaí a Ponta de Areia, onde os trilhos desembocavam num porto que recebia navios da costa do Sudeste. O sertão se tornou parceiro comercial de grandes centros. Mas não foi só por isso que a ferrovia se tornou um marco na economia.

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Antiga estação em Nanuque - Foto: divulgação 

À medida que os trilhos avançavam, povoados e cidades eram fundados. Foi assim que a ferrovia atraiu aportes, fomentou a geração de empregos e estimulou o plantio em terras até então inóspitas. O progresso puxado pela maria-fumaça é descrito por vários pesquisadores. Jaime Gomes, autor de Um trem passou em minha vida, destacou que “milhares de pessoas se deslocaram para aquela região. (…) Montaram engenhos, serrarias e olarias; fundaram vilas, povoados e até cidades. Parte do Sul baiano e do Nordeste mineiro prosperaram, milagrosamente”.


 Mas a má gestão, a corrupção e a precipitada decisão do governo militar de apostar no avanço das rodovias, em detrimento das estradas de ferro, decretaram o fim da linha. Em muitas cidades e povoados o progresso foi embora. A última viagem da Maria Fumaça completará 56 anos em maio de 2023.


Por: Sérgio Vasconcelos
Repórter